É na Quarta-feira de Cinzas que a Igreja dará início à Quaresma, um dos períodos mais importantes do Calendário Litúrgico. Em sua essência, é um momento de retiro espiritual, voltado à reflexão, em que os cristãos se recolhem em oração e penitência, a fim de prepararem o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa.
Quaresma é o período de 40 dias que antecedem a Páscoa do Senhor, a celebração ápice da fé cristã. No primeiro dia, após a proclamação do Evangelho, em que Cristo recomenda a oração, o jejum e a caridade como práticas para a conversão do coração, a Igreja impõe as cinzas sobre os fiéis, que vão percorrer essa caminhada penitencial para a celebração da Ressurreição de Jesus. Cinzas estas que são preparadas pela queima das palmas usadas na procissão de Ramos do ano anterior.
“Quarta-feira de Cinzas é a porta de entrada para o Ciclo Pascal, é a caminhada que nós vamos fazer agora até o Pentecostes. Ela tem um certo caráter penitencial, não devido ao Carnaval, mas por levar o ser humano a refletir: ‘Quem é você?’ ‘Eu sou pó, sou terra, sou humano, sou limitado, preciso que Deus venha me resgatar’. E a primeira cerimônia, que chamamos de cerimônia das Cinzas, tem o sentido penitencial, e também o sentido de tomarmos consciência de quem nós somos, nessas poucas décadas que temos de vivência aqui na Terra. ‘Tu és pó e ao pó retornarás’ (Gn 3,19).
Essa é nossa realidade, não podemos reclamar, porque somos matéria, energia e não vamos além disso. A Quarta-feira de Cinzas é uma abertura, uma tomada de consciência de nossa realidade, para que nos abramos à ação pascal e libertadora de Deus, mas também oferece uma palavra de convocação: ‘Convertei-vos e crede no Evangelho’ (Mc 1,15), ou seja, o caminho de saída dessa alimentação se chama o Evangelho de Jesus, sua proposta, o Reino pregado por Ele”, afirma Padre Ulysses da Silva, missionário redentorista e diretor da Academia Marial de Aparecida.
No Brasil, a Quaresma é também ocasião de fazer repercutir, na sociedade e na vida cristã, temas relacionados com a justiça social e a dignidade humana. A Campanha da Fraternidade, lançada anualmente na quarta de Cinzas, visa ajudar-nos a tornar nossa fé mais coerente e atenta aos sinais dos tempos.
“Para nós, no Brasil, ainda é mais importante esse momento de abertura do Tempo Pascal, porque a Igreja do Brasil faz uma convocação geral, que se chama Campanha da Fraternidade.
Ela não quer que nós apenas nos preocupemos com nossa própria salvação, pois não existe um ‘eu’, mas sim um ‘nós’, uma solidariedade, uma vontade de caminhar juntos e de, principalmente, apontar determinados aspectos, como libertação, redenção e presença maior de Deus, que estão faltando na história humana atual. Cada Campanha da Fraternidade nos convida a essa solidariedade ou mutirão de fraternidade. Nós somos irmãos. Ou nos salvamos juntos ou ninguém se salva”, enfatiza o missionário redentorista.