Em 5 de julho de 1968, falando à Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas, Inácio, então Metropolita de Laodicéia, dizia da ação do Espírito na vida da Igreja e em cada fiel com estas palavras: "Ele é a novidade que opera no mundo, é a presença de Deus conosco e 'se une ao nosso espírito'. Sem o Espírito Deus está longe, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade domínio, a missão propaganda, o culto uma simples evocação e o agir humano uma moral de escravos".
No dia da alegria de Pentecostes, tornado ainda mais festivo pelo regresso do Papa à janela com a Praça São Pedro mais uma vez povoada de fiéis, a Igreja volta a tomar consciência da sua tarefa missionária. Uma tarefa que não brota de projetos ou planos pastorais, mas da grata reverberação de um dom recebido, vivido na simplicidade e na ordinariedade da vida cristã. "A missão, a 'Igreja em saída', não são um programa, uma intenção a ser realizada por esforço de vontade - escreve Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões 2020, citando um trecho de sua entrevista no livro 'Sem Ele nada podemos fazer' - É Cristo que faz a Igreja sair de si mesma. Na missão de proclamar o Evangelho, você se move porque o Espírito impulsiona você e o carrega".
No dia de Pentecostes, disse o Papa na homilia da Missa celebrada em São Pedro, "descobrimos a primeira obra da Igreja: o anúncio". E ainda vemos que os apóstolos não preparam uma estratégia; quando estavam fechados ali, no Cenáculo, não fazem estratégias, não, não preparam um plano pastoral...". Tanto a homilia quanto a mensagem para o Dia Mundial das Missões estão ligadas a outra mensagem importante, a que Francisco enviou nos dias passados às Pontifícias Obras Missionárias (POM). Nesse documento – arquivado rapidamente ou interpretado como confirmação de projetos já em andamento - o Papa lembrou que o horizonte da missão da Igreja é a normalidade da vida cotidiana, não os cenáculos elitistas, e que Jesus encontrou seus primeiros discípulos enquanto eles estavam empenhados em seu trabalho diário, "não em uma conferência, ou em um seminário de formação, ou no templo". Para a rede das Pontifícias Obras Missionárias, Francisco não propôs planos de reforma ou uma nova fundação. Falando evidentemente de um risco muito presente e atual, pediu às Pontifícias Obras Missionárias que não complicassem o que é simples, sugerindo, ao invés disso, que elas continuem a ser um instrumento a serviço do Papa e das Igrejas locais.