"Vigiar é esperar, é não se deixar dominar pelo desânimo: a isto chama-se viver na esperança. Como antes de nascer fomos esperados por quem nos amava, assim agora somos esperados pelo Amor em pessoa. E, se somos esperados no Céu, para quê viver de pretensões terrenas? Para quê esfalfar-se por um pouco de dinheiro, de fama, de sucesso… coisas todas que passam?
Há um sono perigoso: o sono da mediocridade. Sobrevém quando esquecemos o primeiro amor e avançamos apenas por inércia, prestando atenção somente a viver tranquilos. Mas, sem ímpetos de amor a Deus, sem esperar a sua novidade, tornamo-nos medíocres, tíbios, mundanos. E isto corrói a fé, porque a fé é o contrário da mediocridade: é desejo ardente de Deus, audácia contínua em converter-se, coragem de amar, é caminhar sempre para diante. A fé não é água que apaga, mas fogo que queima; não é um calmante para quem está agitado, mas uma história de amor para quem está enamorado! Por isso, Jesus detesta acima de tudo a tibieza (cf. Ap 3, 16). Vê-se o desprezo de Deus pelos tíbios.
E como podemos despertar do sono da mediocridade? Com a vigilância da oração. Rezar é acender uma luz na noite. A oração desperta da tibieza duma vida horizontal, levanta o olhar para o alto, sintoniza-nos com o Senhor. A oração permite a Deus estar perto de nós; por isso liberta da solidão e dá esperança. A oração oxigena a vida: tal como não se pode viver sem respirar, assim também não se pode ser cristão sem rezar. E há tanta necessidade de cristãos que vigiem por quem dorme, de adoradores, de intercessores que, dia e noite, levem à presença de Jesus, luz do mundo, as trevas da história. Há necessidade de adoradores. Perdemos um pouco o sentido da adoração: permanecer em silêncio diante do Senhor, adorando."
(Papa Francisco, Homilia, 28/11/2020)